segunda-feira, 12 de outubro de 2009

A opção pela "dor".


A noite parece me engolir. Tudo vai escorregando lentamente pela ponta dos meus dedos. Sofrimento é uma definição a qual nos apegamos para explicar o que não é gozo. O copo de vinho tragado pelas sombras externas, completam-se na umbra interna.
Pele pálida que enegrece ao sentir o que não (já)mais sente.

Mãos que batem alucinadamente nas teclas anseando desesperadamente por coisa alguma. A luz externa mescla-se com esse desespero, aglutinando-se em forma de loucura. Ah, loucura breve que não me tira todos os sentidos. E tem horas que gostaria de fechar meus olhos e acordar possuído por essa sensação e quem sabe, nunca mais voltar.
Houve um tempo que caminhava e acreditava que era diferente.
Mas já sabemos que essa não é a mais a verdade. Sabemos que tudo é visto de cima e nunca por dentro. Que não se lê pensamentos e que o véu sempre é descoberto mostrando-nos o que não se quer e nem se deve ver.
Como somos tolos achando que as coisas são passageiras ou eternas. Infelizmente elas coexistem em cada esquina, cada banco de café, cada tijolinho da rua. Era uma janela que jorrava esperança e agora nem janela há. É uma porta de baú onde me enclausurei pelo lado de dentro e joguei a chave fora.

"Se quisesse um pouco de sinceridade buscava os russos pré-revolução" - Charles Bukowski.

Dá pra tirar muitas metáforas dessa frase, que tem um sentido linear e óbvio. Mas sempre distorcemos o que lemos ou escutamos trazendo para uma reconfiguração de acordo com o que passamos ou vamos passar. Nesse exato momento me sinto nu. Não de corpo, mas de alma. Vejo meus sentires e minhas ânsias de uma maneira que nunca vi. Nosso maior medo é deixar transparecer as coisas, não?
Medo de ser sincero, medo de ser honesto.
É esse e outros medos que nos deixam fraco, nos torna aquém de pessoas. Meros esboços desleixados. Arturo, Arturo Bandini, cujo nome ecoou em minha cabeça agora.
Esse pó, essa dor. Essa busca pela aceitação... "O cachorrinho sorriu".
Talvez o pó saiba mais que quaisquer um de nós. Só ele foi testemunha, só ele sabe o que viu. As lágrimas que vivenciou, os sorrisos falsos. O escárnio!
Mas... o "cachorrinho sorriu",
O filho que abandonou a Mãe, largou tudo! E foi tentar em Bunker Hill a sorte.
Sorte?


A chuva caí la fora...
Ela é tão forte que me desmembra. E pela primeira vez em alguns anos sinto que nos tornamos um. O mesmo compasso...
São tantos pingos os vejo em vermelho, preto e cinza. Essas são as cores que mais vejo durante a minha vida. Algumas pessoas são vermelhas mas a grande maioria é cinza.

"(...)como odeio você, sua suja. Mas é mais limpa que eu, porque não tem nenhuma mente para vender, apenas aquela pobre carne.(...)" Pergunte ao pó - trecho.

Essa parte ainda me atormenta, penso muito sobre isso. Por que será que pessoas vendem-se por tão pouco, não só carne (que aliás é o menor dos males) mas sim o pensamento. De construir uma imagem inatingível e depois...simplesmente desmoronar-se entre si e os outros, sobretudo a si mesmo.

Pergunte ao pó, certamente ele saberá mais que eu. Pois ele sabe onde estive. E em breve me juntarei a ele.

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