Olhei para o relógio, marcava duas da manhã. À minha volta estavam todos eles embora parecessem comigo não eram eu, mesmo sendo. O primeiro se chamava "Destino", era uma versão mais envelhecida e com olhos mais escuros. Outro sorria ensandecido sua alcunha era "Tormento". Fitavam os outros um pouco além da confluência circular. Eu estava no epícentro deitado. Minhas mãos amarradas e os pés acorrentados. Eles discutiam algo entre eles. Era um som baixinho, quase um ruído branco. Minha cabeça rodava muito. O quê via?
Olhos, bocas, mãos, escuridão. Algo molhava minhas costas, cheirava a sangue e parecia oléo. Não sabia o que pensar, meus pensamentos desordanados remetiam-me a qualquer lugar além de ali. Um deles, estatura um pouco mais alta e mãos lânguidas, resolveu se pronunciar.
-Eu, Indifença, Começo os trabalhos de execução!
Suas pernas finas abriram-se, seus olhos tornaram-se rubros. E a tês quase roxa suava como um porco. Carregava uma adaga, que fora presenteado algum tempo atrás (sim era minha). Lançou-me um olhar que me corroeu por dentro. Silenciou-se.
Tormento, foi o segundo a chegar mais perto. Observou minhas amarras ele era só pressa. Em alguns segundos já saíra de perto. Quando estava de costas murmurou.
- Tolo, mal sabe que seu tempo findou.
Por último, Escuridão, extendeu seus braços sobre meu peito. Me acariciava de uma maneira não homossexual (estranho dizer isso, já que eram versões minhas). Deu um sorriso. A adaga já estava em meu peito. Sangrava desacerbadamente. Os outros Eus riam, gargalhavam estavam em pleno fresesi. E eu? Não sabia o que sentia. Era uma espécie de anestesia emocional. Desacordei.
Agora que recobrei meus sentidos, sei que não sou Eu mais Eu. Sei que quem está ali fora é outro, e me tornei tão influente quanto os outros. Apenas uma parte de um todo que anseia em sair. Ele está lá fora. Mas ele sou Eu. E eu sou Ele. Eu lembro do que fiz, Ele nem sequer pensa sobre isso. Apenas quando eu súbito venho à tona e escrevo possuíndo o que é nosso. Quem é Ele? Isso é o que eu pergunto. E ele sempre responde, sou Tu, e todos somos Eu.
Nada será como antes, e aquele que deitou naquela cama definitivamente não é quem acordou. E quem ousa discordar?
Eu?
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