domingo, 18 de outubro de 2009

Para Susan com amor

Esta não é uma história de amor, e eu nem sequer conheço uma tal de Susan. Houve uma época que alguém à conheceu. Era um doutor-bioquímico suíço com nome alemão.
Wilhelm é o pai disso que seguro na minha mão esquerda, a droga mais potente de todo o mundo:
-Para Susan com amor.
Irônico não? Susan era a esposa de Wilhelm que tinha um caso com Zoe. Zoe era prostituta e Susan por sua vez era pintora. Talvez você fique entediado com essa parte da história, como lhe falei não há amor aqui, e Susan é só um nome de droga, que está na minha mão esquerda. Parece estranho mas estar aqui me despertou a vontade compartilhar a origem dessa droga, que por muito tempo julguei ser uma lenda urbana. Não me interrompa.
Susan era uma mulher anormal, gostava de Wilhelm. Mas com o tempo a relação dos dois ficara enfadonha, e não era por causa da rotina. O doutor ficou obcecado pela criação de um remédio que salvaria vidas, trabalhava em uma cura para o câncer. Susan se preocupava com uma nova expressão artística, estava obcecada por auto-retratos.
Enquanto o Doutor estudava, Susan pintava, Zoe estava no distrito vermelho e com certeza, ela não buscava absolutamente nada. Três dias atrás estava na esquina de um dos becos sujos da cidade, encontrei com um lacaiozinho o nome dele era Charles.
Estava completamente fumado, seus olhos esbugalhavam-se e as mãos bem retraídas. Parecia um circo, e eu era o palhaço. Ele falou algumas palavras, enquanto babava-se. A única coisa que escutei ele dizer com clareza foi:
-Para Susan com amor.
Eu não acreditei à primeira ouvida. Achava que era uma obsessão antiga, e agora isso era apenas uma linha esquecida no canto do jornal. Ele sorria, e disse novamente.
-Para Susan com amor. – e apontava para a rua.
Questionei sobre onde ele havia escutado esse nome, quem lhe disse. Não adiantou muito, há três dias atrás meus delírios foram comprovados. Existia a droga, e alguém a tinha por aí, era uma questão de tempo.
Com o passar dos anos e a relação esfriando Susan, depois de pintar muitos auto-retratos, contraiu uma grave doença, Wilhelm parou com a pesquisa em câncer e dedicou-se a diagnosticar a esposa. Em vão, passava noites no laboratório, mandando amostras de sangue para todo o mundo e não recebia nenhuma resposta.
Sai do beco e fui até um bar. Minha cabeça estava rodando em gozo. Realmente a tal droga existia. Uma procura de muitos anos finalmente estava para acabar. No bar eu iria encontrar com alguns tipinhos que conheço, informação é sempre fácil de se conseguir quando se tem uns trocados no bolso para pagar uns tragos. A noite começava a feder.
Escrevi em um papel manchado com café:
-Para Susan com amor. – assim não precisaria falar muito.
Wilhelm andava exausto pois não sabia ao certo o que a esposa tinha, mas uma coisa sabia ele iria cura-la. Dobrou o turno de trabalho no laboratório, mal se viam. Susan sabia que viria a morrer em breve e dobrou as horas no atelier. Os anos foram passando, Wilhelm cada vez mais longe da cura, e Susan cada vez mais perto da morte.
Quando entrei no bar vi as mesmas pessoas de sempre: brancos, negros, amarelos, drogados, prostitutas e policias disfarçados. Não entendo porque um policial se disfarça se quem é treinado na rua consegue farejar um agente da lei a kilômetros. A tentativa é livre, o obcecado por uma lenda urbana falando. Bem isso foi há três dias atrás.

Havia um sujeito sentado na copa, seu nome era Martin, mas gostava de se chamado de Estirpador. Sabe esses maníacos homicidas com mania de grandeza? Esse era o Martin, dois metros de altura, musculoso e burro feito uma porta. Se o dobrasse sabia que conseguiria as informações necessárias para encontrar a tal droga.
O doutor tinha envelhecido muito nos últimos anos, Susan definhava no seu leito. Para pintar ele amarrava os pinceis nos dedos para que não os soltasse no chão.
Wilhelm às vésperas de criar a nova droga se sentia sozinho. O corpo gritava por sexo mas não tinha cara nem coragem de ir até a cama, ele foi fraco e resolveu pagar uma prostituta e então ele foi para o distrito vermelho.
Paguei uma dose de uísque ao Martin, ele tinha ficado contente. Me falou dos seus grandes planos, assassinatos, roubos era o terror em pessoa. Nada daquilo me interessava, só queria saber o que você já sabe o que eu queria. E como você pode ver, está na minha mão esquerda, uma bela pílula não? Estávamos muito bêbados, ele disse que falaria onde ouviu falar se eu fosse com ele até o centro da cidade.
-Pelos velhos tempos – Disse ele batendo nas minhas costas.
Obviamente eu acabei indo, nos divertimos isso basta. Me falou que os meninos do cais sabiam, era uma pista. Já era tarde no outro dia iria até lá.
Por volta das três da manha Wilhelm estava na Zona. Se sentia pesado, suas roupas eram grandes. Usava uma capa sobre o terno. Era de couro, material bom. Seus óculos redondos e pequeninos escondiam seu olhar. Ele só queria uma prostituta para deitar aquela noite. E então viu Zoe.
Pela manhã fui para as docas. Lá era um lugar perigoso, até mesmo para mim altamente relacionado com o submundo e acredite, isso não foi uma ironia. Havia sido tranqüilo, me falaram onde arrumar a droga, custou-me um nota. Essa noite teria Para Susan com amor. Zoe correu até o doutor. Ele a pegou nos braços, enlaçando-a. Passou a noite lá, quando saiu era manhã e sol ardia sobre a cidade. Zoe despediu-se. Wilhelm, o adultero ia para a casa com a culpa sobre o corpo, na hora ninguém pensa não é mesmo?
Ai você fica me olhando, eu aqui parado. Com essa coisinha na mão, fica se vangloriando mas o vencedor fica com as batatas não é?
E quem são as batatas?
Quando voltou, o doutor rumou direto ao laboratório. Conta-se que passou três dias sem sair, e finalmente concluiu sua obra-prima. Wilhelm estava feliz, a culpa aliviada. Correu para o quarto e constatou que Susan estava morta há três dias. Tomado por raiva e culpa, tentou se matar, em vão.
Ontem, você sabe... Estava naquela esquina, no lugar marcado, na hora marcada.
Anos de luta, resumidos a um simples e notívago encontro. O nome do sujeito era Arthur. Conversamos, e ele não quis me vender a droga. Então você sabe o que aconteceu. E nada mais tenho para falar.
Ah sim, havia esquecido. O doutor pegou sua criação, eram em torno de doze pílulas e as levou para o distrito. Passou a noite novamente com Zoe, e pela culpa a fez tomar o remédio. Esperto e cretino do jeito que era Wilhelm diluiu a pílula na bebida da mulher.
Os relatos e a certidão de óbito dizem que ela viajou durante três dias e morreu comida pelos seu próprio sistema imunológico, o verdadeiro suicídio. O doutor tomou também, e aconteceu o mesmo. Quando encontraram o corpo do Doutor no bolso havia um bilhete:
-Para Susan com Amor.
E você acha mesmo que vou esperar o julgamento, e morrer na cadeira elétrica?

Nenhum comentário: