Foi numa quinta pela noite. Eu estava parado na frente de uma loja de departamento. Sabe quando nada da certo? O dia tinha sido uma porcaria, fui demitido e minha ex-mulher fugiu com outra mulher. Naquela hora meus pensamentos voavam em diversos lugares, pensava no quão era engraçada a situação. Seria uma noite comum de quinta-feira se não fosse pelo seguinte detalhe, não era quinta-feira. Eu acreditava que era, mas definitivamente não era. No bolso esquerdo haviam cigarros de canela e no direito convencionais. Cigarros de canela eram bons para ficar observando enquanto bebia algo amargo. Já os convencionais para quando tomava café ou algo doce. O movimento nas ruas era parco para uma não-quinta-feira quinta-feira. E eu não sabia que diabos fazia ali aquela hora. Foi quando conheci Clarice. Era uma daquelas moças que não se sabe da onde que saiu, mas quando tu conheces pensa "Por quê não apareceu antes!". Ela tinha as bochecas fofas e olhos vívidos. O perfume parecia uma mistura entre coisas que nem sei o que são. Clarice, não sei o que era e nem sei da onde saiu.
Eramos os únicos dois ali parados em frente a uma estúpida loja de departamentos. Ela parecia nervosa. Eu estava calmo. Existe um momento em que as pessoas idioticamente tentam interagir de todas as formas, mas sempre a maneira estúpida é a que leva ao diálogo. Percebi isso quando uma das minhas carteiras de cigarro caiu. "Nossa, tu fumas cigarro de mulherzinha" foram as palavras dela. Respondi educadamente "É, comprei-os sabendo da tua existência", ela sorriu. Universalmente quando alguém sorri para ti é o início do dialogo. Ela pegou um dos cigarros e colocou-o em sua boca. Reparava em todos detalhes: mãos, boca... tudo. Conversamos sobre tudo o que não se fala em dez minutos, e não chegamos a nenhuma conclusão além do óbvio...Não era quinta-feira.
Havia algo deveras estranho naquilo. Como pode alguém chamado Clarice existir em uma não-quinta-feira? É o que me pergunto até hoje. Perguntei a ela que horas eram, ela sorriu e olhou para o céu. Seu sorriso era triste. Antes de ir, perguntou o que eu fazia, eu lhe disse "Nada, só estou aqui tentando descobrir que dia é hoje.". E ela se foi... Às vezes me pergunto aonde ela anda de noite e todos os dias são segunda-feira. Inclusive quintas...
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
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